Final Fantasy ao vivo no Clube Lua

A mente de Owen Pallett deve ser estranha. Um misto de mundo de fantasia para crianças com mortes e uma obscuridade imensa. Isto a julgar pelas várias imagens que se puderam ver no concerto que o músico deu no Clube Lua. Este ano editou como Final Fantasy o segundo registo de originais, He Poos Clouds, e já aí se notava um grande crescimento criativo em relação à estreia do ano passado, Has A Good Home.


:: 15 de Outubro de 2006

He Poos Clouds surgiu com uma complexidade muito maior, onde a concepção da música pop se fundia por completo com uma vertente mais operática; um mundo de fantasia louca dominava as histórias e as personagens que percorrem o disco. Ao vivo temos um contacto muito mais directo com as irrealidades que afloram a mente do canadiano. Entrou discreto, pouco depois da hora inicialmente prevista, e mostrou como não é preciso muito aparato musical ou mesmo visual para fazer um grande concerto.

Logo ao início diz que não sabe tocar violino, nem cantar, nem tocar piano. Também é verdade que é mentiroso – o que o rapaz faz com o violino é suficiente para deixar qualquer um de boca aberta. No entanto não tem uma grande voz, mas esta esconde alguma fúria e loucura por baixo duma aparente fragilidade inicial.

A acompanhá-lo teve uma rapariga com uns valentes totós a passar vários acetatos com desenhos duma grande simplicidade, por vezes quase infantis. As imagens que nos absorviam por completo eram o complemento ideal para o mundo fantasioso das canções de Owen Pallett. Elas levavam-nos para épocas de reis e castelos, mulheres das arábias, luas e estrelas, mas noutro extremo de fantasmas, caveiras e homens enforcados.

Enquanto aquelas imagens nos prendiam e nos faziam sonhar com as mais variadas irrealidades, Owen Palett entregava-se ao violino e elevava as suas canções para um patamar diferente daquele que tínhamos ouvido em disco. Na hora o músico gravava traços das músicas e punha-os em loop, enquanto voltava a tocar algo diferente por cima, para depois sobrepor uma série de camadas extraídas do seu violino (ou dos teclados), e assim iludir-nos que não estava só ali um músico, mas uma série deles.

É impressionante como Owen Pallett dominava o violino com uma mestria tal, em que fazia experiências ali na hora e tudo saia sempre na perfeição. Ele batia no violino, ora com as mãos, ora com o arco, gritava para dentro dele, dedilhava-o como se uma guitarra fosse, tocava-o com fúria, com sobriedade. Com o violino, Owen Pallett faz o que bem lhe entender e ao vivo faz com que as canções nos dominem ainda mais.

Além de se dividir entre o reportório dos dois álbuns de originais, teve ainda tempo de fazer uma bela cover de “An Actor’s Revenge” dos Destroyer e de “Peach, Plum and Pear” de Joanna Newsom, e por momentos esquecemo-nos que aquelas músicas já têm dono.

Com um público rendido, Owen Pallett mostrou no Clube Lua como com pouco se pode fazer muito e provar que é um dos grandes compositores do nosso tempo.

Texto: João Moço
Fotos: JP Almeida

~ por hiddentrack.net em 15, Outubro, 2006.

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